Por que o islamismo, frequentemente associado a morte, terror, pobreza e maus-tratos às mulheres, ainda atrai muitos ocidentais? Esta análise explora três fatores principais que contribuem para essa atração, seguidos de uma reflexão sobre as diferenças fundamentais entre o islamismo e o cristianismo, destacando a superioridade deste último. Por fim, oferece uma orientação sobre como os cristãos podem se posicionar diante dessa realidade no contexto atual.
Por Franklin Ferreira*
Decepção com as igrejas cristãs
Como Blaise Pascal observou, o ser humano carrega um vazio espiritual que apenas Deus pode preencher, um anseio ecoado nas Escrituras, onde lemos que Deus “pôs a eternidade no coração do homem” (Ec 3,11). No entanto, no Ocidente, muitos têm se desencantado com as igrejas cristãs, abalados por escândalos, hipocrisia, superficialidade ou pela percepção de que a fé cristã foi reduzida a rituais frios e rotineiros, desprovidos de verdadeira espiritualidade e devoção a Deus. Essa desilusão cria um vácuo espiritual que abre portas para o islamismo, percebido por alguns como uma religião que oferece disciplina rigorosa, respostas diretas e uma comunidade unida. Essa dinâmica foi vividamente retratada em obras literárias como Submissão, de Michel Houellebecq, que explora a sedução de uma ordem islâmica na sociedade francesa secular, e Os fanáticos, de Max Gallo, que ilustra o apelo do islamismo em tempos de desorientação espiritual na França.
O islamismo, com sua ênfase em disciplina, rituais diários e uma cosmovisão totalizante, pode parecer atraente para aqueles que buscam significado em um mundo caótico. No entanto, essa atração muitas vezes ignora as diferenças fundamentais entre o islamismo e o cristianismo. Enquanto o islamismo exige submissão cega e obras para alcançar a salvação, o cristianismo oferece a graça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo (Ef 2,8-9). A mensagem do Evangelho é de liberdade e misericórdia, não de jugo, e aponta para um relacionamento de aliança com o Deus criador, pessoal e infinito, algo que o islamismo não proporciona. O cristianismo é a fé buscando compreensão (fides quaerens intellectum).
A desinformação e manipulação on-line
Vivemos na era da informação, mas também da desinformação. O islamismo tem ganhado adeptos no Ocidente não apenas por sua mensagem, mas por uma estratégia eficaz de propaganda nas redes sociais e plataformas digitais. Vídeos e conteúdos bem elaborados retratam o islamismo como uma religião de paz, justiça e resistência ao “imperialismo ocidental” e à “ocupação da Palestina”, enquanto caracterizam os membros do grupo terrorista Hamas como “guerreiros da liberdade”. Essa narrativa ressoa especialmente com jovens descontentes com a cultura secular, que enxergam no islamismo uma alternativa à superficialidade do materialismo moderno ocidental.
“A desilusão com o cristianismo cria um vácuo espiritual que abre portas para o islamismo, percebido por alguns como uma religião que oferece disciplina rigorosa, respostas diretas e uma comunidade unida”
Essa disseminação, no entanto, muitas vezes mascara as realidades mais duras do islamismo, como a sharia, que impõe restrições severas às liberdades individuais, e a violência sancionada no Alcorão: “Combatei aqueles que não creem em Allah nem no Último Dia, que não proíbem o que Allah e seu Mensageiro proibiram, e que não professam a religião da verdade, dentre os que receberam o Livro [judeus e cristãos], até que paguem a jizya [tributo] com submissão, estando humilhados” (Sura 9.29).
Enquanto isso, o cristianismo, com sua mensagem de amor ao próximo (Mt 22,39) e perdão (Mt 6,14-15), é frequentemente caricaturado como fraco ou ultrapassado. Os cristãos devem combater essa propaganda não com ódio, mas com a verdade do Evangelho, proclamando a esperança que há em Cristo com ousadia e clareza.
O crescimento do antissemitismo
O ódio a Israel, alimentado por islâmicos, tornou-se uma tendência global destrutiva. Esse sentimento é muitas vezes justificado por narrativas que retratam Israel como opressor, ignorando o contexto histórico mais amplo do Oriente Médio. Os islâmicos, em muitos círculos, promovem uma visão antissemita que se alinha com ideologias esquerdistas antiocidentais, atraindo aqueles que veem Israel como símbolo do “imperialismo”.
Essa narrativa tem sido ampliada por movimentos globais que demonizam o povo judeu, sem distinguir críticas legítimas ao governo israelense de um ódio generalizado contra os judeus. O antissionismo também é antissemita, pois nega o direito de Israel existir como Estado judaico, promovendo preconceitos históricos contra os judeus e deslegitimando sua conexão espiritual e histórica com a terra.
Mas a eleição do povo judeu deve ser recebida pelos cristãos como doutrina bíblica. O Catecismo da Igreja Católica (CIC) ensina que a eleição de Israel é um pilar central do plano salvífico de Deus, sendo um ato gratuito de amor divino. Israel foi escolhido como povo da aliança, começando com a promessa a Abraão (Gn 12,2-3), e consolidada no Sinai, onde se tornou “reino de sacerdotes e nação santa” (Ex 19,6). Essa eleição (CIC §60-64) reflete a vocação de Israel para testemunhar o único Deus e preparar a vinda do Messias. A Igreja reconhece a continuidade dessa eleição, afirmando que a aliança com Israel nunca foi revogada (CIC §839-840), rejeitando visões que consideram os judeus rejeitados por Deus (Rm 11,17-24).
Jesus, o Messias, cumpre a Lei e os Profetas, aperfeiçoando a aliança (CIC §2085). A Igreja, herdeira espiritual de Israel (CIC §751-762), não substitui o povo judeu, mas integra gentios e judeus na salvação. Também destaca que a vinda gloriosa do Messias está ligada ao reconhecimento de Cristo por “todo Israel” (CIC §674). Assim, Israel mantém sua relevância espiritual e profética, sendo um sinal da fidelidade divina e da universalidade da salvação.
A superioridade do cristianismo
Diante dessas questões, é essencial afirmar a superioridade do cristianismo sobre o islamismo, não por arrogância, mas por fidelidade à verdade revelada nas Escrituras. O cristianismo é superior porque é fundamentado na pessoa de Jesus Cristo, o eterno Filho de Deus, o descendente de Davi, o Senhor e Salvador, que é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6).
Diferente do islamismo, que apresenta Maomé como um profeta humano e o Alcorão como uma revelação estática, o cristianismo oferece o Deus que assumiu a humanidade em Jesus, o Salvador vivo, que venceu a morte em sua ressurreição, e intercede por nós sem descanso (Hb 7,25). A mensagem cristã é de redenção somente por graça e misericórdia, não por obras, e promove a dignidade humana, a liberdade e o amor, mesmo pelos inimigos.
O islamismo frequentemente legitima a violência em nome da jihad: “E combatei-os até que não haja mais perseguição e a religião seja para Allah. Mas, se cessarem, que não haja hostilidade, exceto contra os opressores. Porém, se desistirem, saibam que Allah é Perdoador, Misericordioso. E combatei-os até que não haja mais perseguição e a religião seja toda para Allah. Mas, se desistirem, então não haverá hostilidade, exceto contra os injustos” (Sura 2.191-193).
O cristianismo ensina a amar os inimigos e orar pelos que perseguem: “Amai os vossos inimigos” (Mt 5,44). A história também testemunha essa diferença: enquanto o islamismo se expandiu pela espada, o cristianismo cresceu pelo testemunho dos mártires e pela transformação de vidas e sociedades pelo Espírito Santo. Além disso, o cristianismo eleva a mulher à igualdade espiritual (Gl 3,28), enquanto muitas práticas islâmicas, como a poligamia e a submissão forçada, rebaixam as mulheres.
Os protestos que estão ocorrendo nos Estados Unidos são declarações de guerra contra o Ocidente. A imigração ilegal desenfreada e a atuação de organizações terroristas muçulmanas (tais como Al-Qaeda, Estado Islâmico, Al-Shabaab, Boko Haram, Hezbollah e Hamas) e de gangues criminosas nas grandes cidades ameaçam diretamente a segurança e a coesão social ocidental. Em Los Angeles, grupos que protestam contra a fiscalização imigratória (anti-ICE) estão desafiando a ordem legal, atacando os valores que sustentam as liberdades democráticas – além da exibição de bandeiras mexicanas e palestinas, e do uso do keffiyeh, regularmente a bandeira dos Estados Unidos é queimada.
As manifestações anti-ICE em Nova York deixam claras suas verdadeiras intenções. Os cânticos não defendem imigrantes, mas ecoam um grito de revolta: globalizar a intifada. É um ataque direto aos valores e à estabilidade ocidental, usando causas locais como fachada para uma agenda radical de subversão global. Esse cenário suscita um debate urgente: até que ponto as grandes cidades europeias como Paris, Londres, Estocolmo e Berlim estão preparadas para enfrentar tensões semelhantes, já latentes em suas comunidades?
“É essencial afirmar a superioridade do cristianismo sobre o islamismo, não por arrogância, mas por fidelidade à verdade revelada nas Escrituras”
As sociedades que negligenciam suas estruturas fundamentais tradicionais estão em risco de colapsar. Ao fim, somente o cristianismo é uma opção viável para impulsionar uma renovação política, moral, social e espiritual do Ocidente.
Os cristãos diante do islamismo
No contexto atual, os cristãos são chamados a viver sua fé com firmeza, amor e sabedoria, seja em contato direto com o islamismo ou em contextos em que ele não está presente. Sugiro algumas orientações práticas para uma resposta cristã:
- Proclamar a verdade com coragem e respeito. Os cristãos devem compartilhar o Evangelho com ousadia, mostrando que Jesus é o único caminho de salvação (Jo 14,6), sempre com humildade e respeito, refletindo o caráter de Cristo em diálogos e testemunhos.
- Buscar conhecimento sólido. É essencial que os cristãos conheçam profundamente as Escrituras e, quando relevante, os fundamentos do islamismo. Igrejas podem oferecer estudos bíblicos que fortaleçam a fé e, onde aplicável, promovam uma compreensão informada das diferenças doutrinárias e éticas entre o cristianismo e outras crenças, como o islamismo, preparando os fiéis para responder com clareza e amor.
- Viver o amor de Cristo em ações concretas. Jesus nos chama a amar a todos, inclusive aqueles que pensam diferente (Mt 5,44). Para cristãos em contato com muçulmanos, isso pode significar gestos práticos, como acolher refugiados ou participar de diálogos respeitosos. Para aqueles sem esse contato, o amor se manifesta em atitudes de compaixão e serviço em suas próprias comunidades, refletindo o Evangelho.
- Orar pelo poder do Espírito Santo. A oração é uma arma poderosa. Os cristãos devem interceder para que Deus toque corações, incluindo os de muçulmanos, por meio do Evangelho. Relatos cada vez mais frequentes de conversões à fé de muçulmanos através de sonhos e visões no Oriente Médio e África mostram que o Espírito Santo age soberanamente, independentemente das barreiras culturais, religiosas ou geográficas.
- Apoiar Israel. Os cristãos são chamados a amar o povo judeu, honrando sua eleição divina e a aliança eterna estabelecida por Deus (Gn 12,3; Rm 11,1-2). Isso exige combater o antissemitismo, denunciando toda forma de ódio e discriminação aos judeus, e orar pela paz de Jerusalém (Sl 122,6), a capital de Israel, e por justiça no Oriente Médio. Acima de tudo, os cristãos devem interceder com esperança escatológica, aguardando o dia em que todo Israel reconhecerá o Messias Jesus (Rm 11,26), conforme a vontade de Deus.
- Testemunhar uma fé vibrante e autêntica. A melhor resposta a qualquer desafio à fé cristã é uma vida transformada pelo Evangelho. Uma igreja que vive os ensinamentos de Jesus com integridade, paixão e unidade é um testemunho vivo do poder do Evangelho, atraindo outros para a verdade, independentemente do contexto cultural ou religioso.
“Mas Deus…”
As decepções com as igrejas, a desinformação disseminada on-line e o ódio contra Israel podem parecer forças implacáveis que atraem muitos para o islamismo, obscurecendo a verdade. “Mas Deus…”, como proclamou José (Gn 50,20): “Vocês planejaram o mal […], mas Deus o tornou em bem, para que hoje fosse preservada a vida de muitos”. Assim como José, uma figura central na formação de Israel, confiou na soberania divina, nós também cremos que o Deus criador reina sobre todas as coisas, transformando intenções malignas em bênçãos e guiando as nações para sua verdade eterna.
O cristianismo oferece perdão, conversão e alegria e a promessa da ressurreição do corpo e da vida eterna em Cristo – uma esperança incomparável superior a qualquer narrativa filosófica, política ou religiosa. Cabe aos cristãos serem luz nas trevas, proclamando com ousadia e amor que “em nenhum outro há salvação” (At 4,12). Que nosso testemunho revele a supremacia do amor de Cristo, transformando vidas para a glória de Deus. Guiados pelo Livro de Oração Comum, oramos: “Ó Deus de infinita misericórdia, que pela morte e ressurreição de teu Filho Jesus Cristo redimiste a humanidade; concede-nos, pela fé n’Aquele que triunfou na cruz, a vitória sobre o pecado e a morte. Por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.”
(*Franklin Ferreira é bacharel em Teologia pela Escola Superior de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, pós-graduado em Bíblia e Teologia pela Universidade Luterana do Brasil, mestre em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil e doutor em Divindade pelo Puritan Reformed Theological Seminary. É reitor e professor de Teologia Sistemática e História da Igreja no Seminário Martin Bucer, em São José dos Campos (SP), professor-adjunto no Puritan Reformed Theological Seminary, em Grand Rapids-MI (Estados Unidos), e consultor acadêmico de Edições Vida Nova. Autor de vários livros.)