Hiperinteressante

Entrevista:* BANDIDO OU HERÓI? “LAMPIÃO FOI AS DUAS COISAS — E MUITO MAIS”, DIZ DOCUMENTARISTA

‘Lampião, o governador do sertão’, de Wolney Oliveira, que estreia no próximo dia 5, desvenda os caminhos entre o homem, o mito e as controvérsias que o envolvem.

Em 4 de junho de 1898, nascia em Serra Talhada, no Pernambuco, Virgulino Ferreira da Silva, o maior cangaceiro da história do Brasil, popularmente conhecido como Lampião.  Líder do movimento de banditismo, o Rei do Cangaço reinou no Sertão nordestino entre as décadas de 1920 e 1930. 

Agora, 127 anos depois de seu nascimento, sua história é revivida pelo diretor Wolney Oliveira através do filme Lampião, o governador do sertão, que desvenda os caminhos entre o homem, o mito e as controvérsias que o envolvem. A produção estreia neste dia 1º em Fortaleza e chega nas demais cidades brasileiras em 5 de junho.

Lampião já é, ao lado de Maria Bonita, a figura mais notória do cangaço, com todas as controvérsias em torno de sua figura histórica. E essas controvérsias influenciam diretamente também em suas representações já feitas, algumas dando destaque ao seu aspecto da bandidagem, outras com enfoque em sua luta pelos mais pobres”, diz Wolney em entrevista ao Aventuras. 

“Com meu filme, o que quero não é escolher uma das facetas de Lampião para retratar, mas tentar retratar ele como um todo, sejam coisas boas ou ruins, com a intenção de valorizar principalmente sua história, quem ele realmente foi”, prossegue. 

Retrato do Sertão 

Lampião, o governador do sertão contrapõe a imagem do temido líder cangaceiro à força simbólica e cultural que seu nome carrega até os dias de hoje. Ao mergulhar na complexidade de sua figura, o longa revela como Lampião transcendeu a história para se tornar um ícone duradouro da identidade nordestina.

Apesar do lançamento neste dia 1ª, Wolney nos conta que as filmagens começaram ainda em 2006. “Naquela época, eu comecei a desenvolver um projeto sobre o cangaço, e eu tinha duas opções: contar a história de Lampião ou focar em outra história, de Moreno e Durvinha, o último casal de cangaceiros, que ainda estavam vivos, lúcidos e ambos com mais de 90 anos”. 

Considerando o achado de Moreno e Durvinha como “peças raras”, Oliveira acabou optando pela produção do documentário Os Últimos Cangaceiros, lançado em 2011. “Mas a ideia de fazer algo sobre Lampião nunca saiu da minha cabeça. E anos depois, entre 2018 e 2020, comecei a gravar o primeiro documentário dedicado a ele”. 

“E eu quis iniciar esse projeto porque, até então, não existia nenhum documentário sobre o Lampião, mesmo que ele já tenha sido representado várias vezes pela mídia. E ele, como um símbolo do sertão nordestino, era uma figura que chamava atenção para o que acontecia no Nordeste daquela época, por isso eu queria contar essa história”.

Cena de ‘Lampião, o governador do sertão’ – Kaja Filmes e Bucanero Filmes

Para buscar fidelidade à época, Wolney Oliveira aproveitou da longa pesquisa que fez para Os Últimos Cangaceiros, e mergulhou profundamente no dia a dia destas pessoas e da região em que atuavam. 

“Já sobre o Lampião em si, também foram aproveitados vários relatos e documentos históricos, que por si só colocam maior verdade no personagem, que já é uma importante figura cultural do cangaço. Além disso, também trabalhamos com cuidado nas roupas utilizadas nos figurinos, para não nos afastarmos muito do material fonte e também sermos mais fidedignos a como era”, explica.

Herói ou vilão?

Uma das grandes discussões em torno da figura de Virgulino Ferreira da Silva é justamente sobre sua imagem e legado. Afinal, para uns, ele foi um herói; para outros, um bandido. Mas como o filme trata esse dilema? 

No filme, não quis focar exatamente se Lampião era bandido ou herói. A verdade é que ele foi as duas coisas — e muito mais”, ressalta Wolney

O diretor, assim, destaca as duas faces do mesmo personagem. “Por um lado, ele era chamado de bandido implacável, que cometeu horrores em vários lugares que passou e sendo caçado pelas autoridades. Por outro, ele também ficou conhecido por lealdade aos moradores pobres do sertão, entrando em conflito e disputa principalmente com as pessoas mais ricas, e ajudando outras pessoas”. 

“O que busquei foi apresentar a figura e a história dele com toda a complexidade que ela carrega, deixando para o espectador decidir o que pensa sobre Virgulino Ferreira da Silva, deixando o espectador pensando justamente sobre essas controvérsias após assistir”, diz. 

Lampião e Maria Bonita com seus seguidores – Domínio Público

Apesar da discussão em torno de VirgulinoOliveira salienta que o maior legado deixado por Lampião é outro: a história do cangaço em si. “Ele trouxe a atenção do Brasil para o Nordeste”. 

Justificando sua resposta, o diretor relembra que a atenção em torno de Lampião era tamanha que até mesmo ganhou o olhar do então presidente Getúlio Vargas, quem ordenou a caçada ao cangaço

“Fora isso, até hoje, a memória e influência dele são muito visíveis em várias regiões do Nordeste, como no Ceará, que têm ruas, prédios e até pratos típicos com nomes dos cangaceiros. Tem também lugares onde a economia e o turismo ainda giram em torno dessa história, com a venda de artesanatos que remetem ao cangaço, bem como outras peças de vestimento e acessórios”, prossegue. 

Wolney aponta que o legado e a memória do cangaço seguem vivos até hoje e impactam diretamente o dia a dia de muitas pessoas que vivem nas regiões onde ele fez história. 

“Fato é que até hoje, um século após o cangaço, Lampião continua sendo lembrado. Então é inegável que sua história tenha continuado relevante, mesmo entre as gerações mais jovens. Sendo sua história ainda contada, seja pelo ponto de vista dos crimes que cometeu, seja pela resistência que ele enfrentou como líder do cangaço, essa história continua com grande relevância entre os mais jovens também por muitas culturas e regiões ainda se sustentarem muito graças aos vestígios do cangaço”.

“Então espero que sim, que o filme consiga atrair atenção dos mais jovens para essa figura tão importante da história nacional e do nordeste brasileiro, que é marcante até hoje e que também merece um olhar crítico sobre si”, finaliza. 

(*Com Aventuras na História)

Igu News

Igu News

About Author

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Somente a verdade. Este é nosso compromisso com nossos leitores!

Principais Categorias

Cadastre em nossa newsletter

    E receba diretamente em sem e-mail

    Iguassu News @2025. Todos os direitos reservados

    By CB4