Lula e seu partido voltaram ao poder com discurso pela democracia, mas preferem afagar ditadores do que cuidar do futuro do país.
Por Lygia Maria*
Na sexta (9), Lula, eleito presidente com o discurso de defesa da democracia ante o desvairado de laivos autoritários Jair Bolsonaro, curvou-se ao autocrata Vladimir Putin em Moscou.
O evento, em comemoração ao esforço de guerra soviético para o término da Segunda Guerra Mundial, na verdade serviu como respaldo para a invasão da Ucrânia pela Rússia e contou com a presença de líderes despóticos da China, da Venezuela, de Cuba e outros países avessos ao Estado democrático de Direito.

A desculpa por tamanha incoerência é um datado anti-imperialismo dos Estados Unidos que aceita o imperialismo russo, ditaduras latino-americanas e teocracias no Oriente Médio.
Não à toa, no dia 7, o IBGE resolveu desenhar tal lógica distorcida e lançou um mapa-múndi do avesso, com o Brasil no centro, o Sul em cima e o Norte em baixo. O objetivo seria ressaltar a liderança do país em importantes fóruns globais como o Brics —entidade há muito inútil que reúne desde a pobre Etiópia até tiranos como o Irã e a própria Rússia.
Enquanto o instituto de estatística brincava de colorir, dois dias antes uma pesquisa mostrou que 29% dos brasileiros entre 15 e 64 anos são analfabetos funcionais. E o vexame não para aí. Desses, 43% concluíram o ensino fundamental, 17% se formaram no médio e é assustador que 12% obtiveram diploma universitário.
A taxa caiu de 39% em 2001 para 27% em 2009 impulsionada pela expansão do acesso à educação, mas ficou estagnada, entre 27% e 30%, desde então devido à inépcia de governos nas três esferas para melhorar indicadores de aprendizagem, que são pífios em exames locais e internacionais —note-se que, no âmbito federal, o PT ficou quase 14 anos no poder, sem contar o atual mandato.
Esta coluna deveria ter começado por esse descalabro, e eliminá-lo deveria ser o princípio norteador das gestões petistas. Mas o PT, em seu mundo invertido, prefere afagar ditadores em nome de uma ideologia retrógrada do que cuidar do futuro do país.
(*Lygia Maria é Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP)