Para evitar conflitos com estudantes ou professores com pensamentos diferentes, a regra é agir sempre com respeito e de forma pacífica, evitando qualquer tipo de confronto.
Sete meses atrás, parecia improvável que as dependências de algumas das maiores universidades públicas do país, como USP, UFRJ e UFMG, recebessem eventos com centenas de jovens entoando louvores cristãos. Mas isso começou a se tornar realidade em outubro do ano passado, quando uma organização missionária decidiu promover cultos dentro de universidades públicas estaduais e federais.
A estratégia é simples: depois de obter autorização da Reitoria da instituição, membros da Aviva – organização cristã que faz trabalhos evangelísticos e sociais em escolas e faculdades – publicam nas redes sociais vídeos com convite para os cultos. Jovens cristãos que moram nas proximidades comparecem e, aos poucos, alunos, professores e funcionários das universidades acabam sendo atraídos, e muitos se juntam aos encontros, chamados “impactos de avivamento”.
O que começou com um microfone e uma caixa de som em uma praça em frente a um campus da Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia, hoje se tornou um evento completo, com instrumentos musicais, som e uma pequena estrutura de iluminação. Tudo é levado pelos próprios jovens, com muitos deles se conhecendo apenas no momento do culto.
Cerca de mil pessoas, a grande maioria jovens, compareceram no último culto realizado na UnB, no dia 27 de maio (Foto: Sophia Gonçalves/Aviva)
Cultos são organizados pelos próprios estudantes
A principal voz por trás da iniciativa é Lucas Teodoro – um estudante universitário de 22 anos que soma mais de um milhão de seguidores nas redes sociais. Ele é o fundador da organização Aviva.
No culto realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFJR), no dia 15 de maio, apenas ele e mais um membro da organização vindos de Goiânia, a sede do movimento, conseguiram ir ao Rio de Janeiro. “Quando chegamos na UFRJ, foi uma grande surpresa. Encontramos vários jovens, líderes e até pastores de diferentes igrejas, de várias denominações, no campus universitário. Todos se unindo e abraçando a causa”, diz.
“Vimos líderes das igrejas locais, professores e líderes de dentro da universidade apoiando a ideia. Todos ajudaram a organizar a iluminação, o som. Todo mundo se unindo e se ajudando. E um detalhe: a maioria não se conhecia. Quase todos se conheceram na hora, viraram amigos e abraçaram a causa”, conta Lucas.
Ao todo, mais de mil pessoas estiveram presentes no culto do campus da Cidade Universitária UFRJ – o chamado “Campus Fundão”.
Evento na UnB teve professor cristão como pregador e recebeu visita de padre
O apoio da comunidade universitária é determinante para o sucesso dos cultos. E de dentro da Universidade de Brasília (UnB), onde aconteceu o último encontro, no dia 27 de maio, veio um importante aliado para a organização missionária: Gilberto Araújo, professor de História, Antropologia e Filosofia Contemporânea da instituição.
Além de docente, Gilberto também é pastor e fundador do Fire Universitário – um movimento que promove reuniões em pequenos grupos dentro das universidades. Nesses encontros, denominados “núcleos”, os alunos se encontram nos intervalos das aulas para falar sobre Jesus Cristo e a Bíblia. Com quase 15 anos de jornada, o movimento já alcançou 80 mil alunos. Atualmente há 580 núcleos espalhados por todo o Brasil.
“As universidades não são ‘cemitérios de cristãos’. Elas são os maiores campos missionários da contemporaneidade. Esses movimentos dentro dos jovens, além de honrar o Evangelho, influenciam uma geração de estudantes”, diz o professor. “A tendência é que isso cresça de forma abundante”, prossegue.
E não são só evangélicos que comparecem aos encontros: a presença de católicos é significativa. No último evento, na UnB, um padre de uma paróquia próxima à universidade foi ao local, levando junto um grupo de fiéis. “Ele ficou sabendo pela internet e foi lá conversar com a gente. Disse que estava muito feliz com o movimento. Ficamos honrados com isso, porque muitos católicos comparecem nos cultos”, diz Lucas.
Nenhum caso de conflito ou hostilização até agora
Para evitar conflitos com estudantes ou professores com pensamentos diferentes, a regra é agir sempre com respeito e de forma pacífica, evitando qualquer tipo de confronto. Dessa forma, até o momento os organizadores nunca presenciaram nenhum conflito, nem foram alvo de ataques ou hostilizações.
Para o professor Gilberto, há uma resistência político-partidária a eventos como esse por parte de alguns grupos dentro das universidades, mas a postura pacífica e não politizadora do movimento contribui para evitar conflitos.
“Nós só nos reunimos em um lugar específico de forma muito pacífica, sem badernas. Pelo contrário: há muita ética. É algo organizado”, explica.
Alguns dos locais selecionados pelos jovens para fazer os encontros são justamente aqueles onde estudantes costumam fazer festas e até mesmo consumir drogas. E a escolha não é à toa. “A verdade é que hoje, infelizmente, as universidades federais se tornaram um grande campo de manipulação. Nós vemos muitos alunos indo para lá e se perdendo, se viciando em drogas. Muitos alunos, depois que entram, passam a desrespeitar os pais, viram as costas para a família”, afirma Lucas.
“E nós, como cristãos, às vezes temos um certo medo de entrar nesse ambiente, achamos que vamos ser empurrados dali. Mas, pelo contrário, descobrimos que essas pessoas estão com sede de Deus, e muitos estão entendendo isso agora.”
(Com Gazeta do Povo)