Grupo que espionava, matava e negociava decisões no STJ. Segundo a PF, as investigações revelaram a atuação da organização criminosa especializada, em espionagem e homicídios sob encomenda.
A Polícia Federal deflagrou nesta quarta-feira (28) a sétima fase da Operação Sisamnes, que investiga suspeitas de vazamentos e venda de decisões em gabinetes do STJ (Superior Tribunal de Justiça).
A nova fase tem o objetivo de investigar os possíveis mandantes e eventuais coautores do homicídio do advogado Roberto Zampieri, em 2023, em Cuiabá. Zampieri foi morto dentro do carro, com dez tiros, em frente ao seu escritório na capital mato-grossense.
No celular de Zampieri, foram encontradas conversas com desembargadores, empresários e com o lobista Andreson de Oliveira Gonçalves, que intermediava as negociações com servidores do STJ.
Durante as investigações, a Polícia Federal afirma ter descoberto a existência de uma organização criminosa responsável pela prática de crimes como espionagem e homicídios sob encomenda.
Essa suposta organização criminosa empresarial era denominada “Comando C4”, formada por militares (ativos e da reserva) e civis, seria dedicada à prática de crimes graves, especialmente espionagem e homicídios sob encomenda, entre elas o advogado.
O C4 significava, de acordo com as investigações, “Comando de Caça Comunistas, Corruptos e Criminosos”.
O nome do grupo é uma alusão dupla. Comando de Caça aos Comunistas foi uma das mais famosas agremiações anticomunistas brasileiras, surgida pouco antes da ditadura de 1964. Já C4 é o o nome de um dos mais disseminados explosivos de emprego militar do mundo.
Ao analisar documentos apreendidos, a Polícia Federal afirma ter encontrado manuscritos contendo menções a autoridades brasileiras, entre as quais se destacam parlamentares do Congresso Nacional e ministros do STF.
Por determinação do ministro Cristiano Zanin, do STF (Supremo Tribunal Federal), foram cumpridos cinco mandados de prisão preventiva, quatro mandados de monitoramento eletrônico e seis mandados de busca e apreensão nos estados de Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais.
Eles já eram suspeitos de terem participado da morte de Zampieri, mas agora são também apontados como participantes de uma organização criminosa armada.
Entre os presos preventivos na operação desta quarta está Anibal Manoel Laurindo, apontado pela polícia de Mato Grosso como o suspeito de ser mandante do assassinato. Ele tinha interesses em uma disputa de terra que ocorria na Justiça local.
Procurada, a defesa de Anibal disse que ainda está analisando a situação do cliente e se manifestará depois.
Também foram alvos do mandado o coronel reformado do Exército Etevaldo Luiz Caçadini de Vargas, que era suspeito de intermediar o crime. Caçadini já estava preso, e sua defesa diz que ele está doente.
A advogada de Caçadini, Sarah Quinetti, afirma que nas buscas e apreensões desta quarta não foi encontrado qualquer elemento ilícito contra seu cliente.
Também foi alvo o pedreiro Antônio Gomes da Silva, suspeito de ser o autor dos disparos, e o instrutor de tiro Hedilerson Fialho Martins Barbosa. O advogado de Hedilerson, Igor Lopes, afirma que não teve acesso ao teor da decisão e da operação e que a “defesa segue trabalhando com dedicação”.
A reportagem não localizou a defesa de Antônio.
Nesta quarta, também são cumpridas medidas cautelares como uso de tornozeleira eletrônica, proibição de contato e saída do país e o recolhimento dos passaportes de outras quatro pessoas.
As investigações que chegaram às suspeitas sobre o STJ se iniciaram após o homicídio do advogado. Em mensagens que estavam em seu celular, foram encontradas menções a vendas de decisões em gabinetes de ao menos quatro ministros.
O caso levou ao afastamento de dois desembargadores do Tribunal de Justiça do estado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
(Da Redação com Folhapress)