Presidente americano critica mega-ataques à Ucrânia. Países, como Alemanha e Dinamarca, líderes voltaram a dizer que os ataques provam que Putin não quer a paz.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que Kharkiv, que já foi parcialmente ocupada no começo da guerra, é muito difícil de conquistar. A capital homônima é a segunda maior cidade da Ucrânia, não um vilarejo no descampado que marca boa parte da linha de frente em outros pontos. Segundo o analista, a Rússia não tem gente suficiente para tomá-la.completamente louco” após os maiores ataques aéreos em sua guerra contra a Ucrânia, ocorridos de sábado (24) para cá.
A reportagem ouviu de três pessoas do entorno do Kremlin e do Ministério da Defesa da Rússia, o americano talvez precise ir além da postagem na rede Truth Social: Putin está preparando uma ofensiva de grandes proporções para o verão do hemisfério Norte, que começa no mês que vem.

A tensa dinâmica está estabelecida no momento em que os russos prometem apresentar sua proposta de acordo de paz com o vizinho invadido em 2022, enquanto Kiev exige um cessar-fogo imediato que Trump desistiu de apoiar.
Na madrugada de domingo (25), Putin promoveu o maior bombardeio da guerra, com 367 drones e mísseis empregados, matando 12 pessoas. Após dizer a repórteres que “não estava feliz” e que não sabia o “que diabos aconteceu com ele”, Trump voltou à carga.
“Eu sempre tive uma relação muito boa com Vladimir Putin, mas algo aconteceu com ele. Ele ficou completamente louco! Ele está matando um monte de gente sem necessidade, e não só soldados”, escreveu na rede.
“Eu sempre disse que ele quer toda a Ucrânia, não só um pedaço dela, e talvez isso esteja me provando certo. Mas se for assim, isso levará à queda da Rússia!”, afirmou, ignorando o alinhamento que demonstrou às motivações de Putin nos últimos meses.
Trump não poupou o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, “que não está ajudando seu país falando da forma como ele fala”, segundo o americano. “Tudo o que sai da boca dele causa problemas, eu não gosto disso, ele deveria parar”, escreveu, em referência à crítica feita pelo ucraniano no domingo, quando ele disse que o “silêncio dos EUA” encorajava Putin.
Aos jornalistas, Trump disse que os EUA poderiam considerar endurecer as sanções contra os russos, algo que a União Europeia e o Reino Unido já fizeram na semana passada. Até aqui, ele dizia ser contra essas medidas. O presidente francês, Emmanuel Macron, disse esperar que o americano “traduza palavras em ações” pois teria entendido que “Putin mentiu para ele”.
Na madrugada desta segunda, o russo seguiu com o que o Kremlin chamou de retaliação pela grande onda de ataques de drones da Ucrânia, que somaram mais de 1.500 aparelhos derrubados na Rússia desde a última segunda-feira (19).
Putin repetiu a dose do domingo, lançando 364 drones e mísseis. O ataque não matou ninguém e foi menos destruidor porque, diferentemente da véspera, quando foram usados 69 mísseis, mais eficazes e de difícil interceptação, nesta segunda foram 9 —e nenhum balístico, o tipo mais perigoso.

Em outros países, como Alemanha e Dinamarca, líderes voltaram a dizer que os ataques provam que Putin não quer a paz. Zelenski, por sua vez, disse que as ações são “uma decisão política” do presidente russo.
Segundo a reportagem ouviu em Moscou, até aqui Putin está convencido de que pode negociar aumentando a pressão militar. Uma pessoa próxima do Kremlin disse que a cúpula militar acredita ser possível completar a conquista dos quatro territórios anexados ilegalmente em 2022 e avançar no norte do país.
Lá Fora
O Kremlin até já imprimiu livro didático para a região de Kharkiv, no norte, sem esconder suas pretensões. Jornais ingleses e alemães disseram, no fim de semana, que ela será um dos alvos da ofensiva, ao lado da vizinha Sumi.
Um analista militar russo ouvido pela reportagem diz que pode haver avanço ali, mas que é mais provável que ele seja um diversionismo para um ataque contra a rica área de Dnipropetrovsk, onde estão as principais reservas de minerais estratégicos de Kiev.
A vida nas regiões anexadas pela Rússia

Rastro de disparo recém feito de sistema antiaéreo Pantsir-S1 na região de Guenitchek (Kherson) Igor Gielow
Pesa também a realidade: Kharkiv, que já foi parcialmente ocupada no começo da guerra, é muito difícil de conquistar. A capital homônima é a segunda maior cidade da Ucrânia, não um vilarejo no descampado que marca boa parte da linha de frente em outros pontos. Segundo o analista, a Rússia não tem gente suficiente para tomá-la.
Um integrante da elite russa expressou o que chamou de “profundo desânimo” com os renovados tambores de guerra. Ele conta que colegas seus, empresários de grosso calibre, vinham comprando ativos de empresas de energia russas na Bolsa desde que Trump assumiu, otimistas com a perspectiva de reabertura da Rússia à economia global.
Agora, diz, há um senso de pânico com o risco de escalada e temor de uma nova mobilização, algo por ora descartado pelo Kremlin. Há também o medo, esse de realização mais improvável na prática, de que a guerra enfim ultrapasse fronteiras e envolva os membros europeus da Otan, a aliança militar liderada pelos EUA.
Há também a possibilidade de que tudo isso seja um grande blefe, mas as imagens de satélite sugerindo que até 50 mil soldados estão se reunindo perto da fronteira em Sumi e Kharkiv dão gravidade à jogada —se for isso mesmo, dado que há um grau de morde e assopra da parte russa.
Moscou e Kiev, afinal de contas, promoveram no fim de semana também a maior troca de prisioneiros da guerra, mil de cada lado. Ela decorreu das primeiras negociações diretas desde 2022, ocorridas há duas semanas e que deverão ter continuidade.
O Kremlin adotou o sangue-frio nesta segunda. Questionado sobre a fala de Trump, o porta-voz Dmitri Peskov apenas agradeceu aos EUA pelos esforços em favor da paz na região e voltou a dizer que os ataques foram apenas uma medida de autodefesa tomada por Putin.
Peskov lembrou das ameaças de Kiev quando o russo recebeu líderes aliados, como Xi Jinping e Lula, para a parada do Dia da Vitória no começo do mês.
Zelenski não se intimidou e também manteve a agressividade, dentro dos limites de suas capacidades. Seguiu a campanha de ataques com drones nesta segunda, com a Rússia dizendo ter derrubado 96 aparelhos, sendo obrigada a fechar os quatro aeroportos de Moscou temporariamente —uma rotina que tem causado caos aéreo no país.
(Da Redação com Folhapress)